quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Sin duda...

Olhei pausadamente o destino que se aproximava sem tempo de o entender. Aceitei-o resignado, desarmado por um sorriso difícil de perceber. Na estrada o mundo passava rapidamente pelos meus olhos mortiços, da vegetação rasteira, só as pequenas papoilas davam vida à grama que erraticamente sugava os poucos nutrientes de uma terra pobre.

Chegámos finalmente, procurei absorver cada aroma, decorar cada diferença para facilmente poder recordar cada momento. A caminhada havia sido longa, e a viagem um meio para chegar a um fim que sempre quis como início.

Estava tudo tão diferente, não havia pessoas, não havia palco ou brilho, só tu...bastava!
Segurei-te a mão, o silêncio falava por nós, aproximei-me lentamente e vi o brilho que tantas vezes tinha procurado nos teus olhos. Fingi não ter reparado, fugi à procura do cigarro que tudo esconde, o cheiro, o sabor, até o desejo e quando voltei o olhar tinha mudado.

Estava certo que nos teus olhos via reflectido o brilho dos meus...era fácil percebe-lo, para que esconde-lo?tudo flui, tudo morre e agora... tudo renasce!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Área verde/cinza/marrom, filha de Taumante e de Electra...

A primeira gota tocou-me as mãos despidas, olhei desamparadamente para cima, embalado pelo mar de núvens, esperei resignado o pranto que desabou sobre mim... As árvores despidas já o esperavam há algum tempo, avisadas por um vento que corria assobiando, dando vida às folhas, umas amarelas, outras vermelhas, que jaziam havia algum tempo no branco chão.
Foi uma delas que pisei, e o som ao desfaze-la acordou-me de um inverno cinzento e frio. Das mãos trémulas, abracei a chuva que alimentava a terra, entreguei-me a ela, e invejando a forma como se lançava sobre um abismo de vida, segui-a até fugir de vista.
Quando dei por mim, a ponta do cigarro era agora a única luz que iluminava o caminho, mas levantando a cabeça uma outra mais luminosa crescia das vozes que se levantavam mais à frente.
Do medo sobrava a curiosidade que inquietante me impelia a continuar.
Ao fundo da rua, no crepitar de uma fogueira, encontrei-te perdida, o fogo, esse iluminava apenas os traços finos de anos que não tinham passado. Já lá iam seis, continuavas na mesma, fingiste não me ver, seria mais fácil assim, contudo pelo canto do olho senti que me observavas. A lenha essa ardia lentamente, indiferente ao vento e à chuva. Olhaste-me uma última vez, e sem uma palavra fechaste a porta, e a fogueira agora queimava, ardia em pensamentos distantes, em verdades benditas, em tempos que não eram meus, nem teus, que nunca poderiam ser nossos.
Do sono profundo acordei um ano depois, das árvores caía o fruto amadurecido por um sol tirano, do cinzento do céu não restava senão a recordação, e do teu olhar desprendido cresciam os beijos de um gelado estival. Do Inverno sobrava o vento, soprando uma nova melodia...rodopiava, corria sorria!

Encontrei-me então, solto, preso...perdido em ti!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Régua e Esquadro

As lágrimas caiam-lhe levemente pelo rosto enquanto, com a língua procurava discretamente o sabor da sua dor.
Ninguém olhava e a sua ânsia de atençao desvanecia se nos sorrisos daqueles que o apontavam anedoticamente. A sua infância seria sempre assim, marcada por dedos esticados, por nódoas negras e humilhações, pela revolta contida, tantas vezes escondida de uns pais que não faziam mais do que o trazer nas palmas das mãos.
Ele olhava-os resignado quando voltava à escola, as sardas deixavam de se notar devido ao rubor que lhe corria a cara quando a campainha o voltava a chamar. Lá dentro esperavam-no como abutres, sabiam que já entrava morto, que não lutaria, que se limitaria a chorar, sem fazer barulho, afagando delicamente o cabelo cortado direito.
No fundo já não se lembravam porque o faziam, tinha-se tornado mais um hábito, uma maneira de rir e fazer rir à custa de alguém sem reacção. Lembro-me bem desses tempos, de como me sentia bem com o dedo esticado, de como me ria.
Ele não era mais que o balanço de um grupo de crianças, era o mal necessário ao bem estar geral. A violência ficava ali, entregue a alguém que sofria pelos outros, sem esboçar qualquer tipo de resposta. Mas ele haveria de superar, de crescer, o importante era que aproveitássemos que nos enchessemos de vontade de ir à escola só para o ver entrar só para o ver chorar...raio do bacorinho...às vezes penso como teria sido tudo mas dificil sem ele, imagino se hoje em dia olham para ele e veem o triste de que sempre me recordarei.
Nunca ninguém lhe agradeceu, nunca ninguém o fez sentir especial no seu papel de mártir, acho que bem lá no fundo se ria dele, e da sua figurinha cabisbaixa...

Presto-te então aqui homenagem óh Jesus Cristo da escola primária

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Ano Novo...

O som da respiraçao, o olhar de uma noite mal dormida o espirito em convulsao, a voz de uma frase gemida. O quente cheiro do amor suado, o ventre repleto de um sabor salgado. O frágil aroma, o corpo dormente, o inconsciente coma do coraçao doente.

Ficaste, ficas, ficarás, é bom conjugar-te, sonhar-te...aqui...ao lado!