terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Voltaste...

Bateram as duas horas no relógio grande da sala, pela casa despida o som ecoava desamparado.O sol mostrava-se timidamente envolto pela névoa que o dominava, o Outono tinha chegado.
Abri uma garrafa de vinho, enchi o copo até meio. Respirava-o avidamente enquanto a lingua estalava frenética em antecipação.
O barulho entrou em casa como um terramoto, o silêncio que se seguiu foi desesperante, assustador. O vinho esse continuava ao meu lado, como sempre, bebi-o de um trago, quente, ligeiro, fugaz. Acendi um cigarro indiferente ao que se passava. Lá fora gritavam desesperadamente, não os ouvia.
Na velha cadeira de baloiço o tempo custava a passar, as vozes essas acalmavam, calculei que no fundo mentiam, a ilusão era porventura um facto, continuei sem as querer ouvir.
O enfado percorria-me o corpo, respirava fundo, com os olhos fechados esperei envolto em pensamentos que não eram de ninguém.
Levantei-me finalmente, na rua brincava um grupo de crianças, corriam alegremente sem preocupações, sem causas perdidas. A cadeira essa continuava a baloiçar sozinha com a inércia que só a gravidade permite.
As crianças desapareciam, uma a uma, amanhã seria outro dia, para mim o prolongar do mesmo. Da cozinha o leve assobio das panelas roubou-me a atenção, dispersei-me.

Não pensei que estarias certa, não achei que seria assim, e todo este turbilhão de pensamentos tomaram de rompante conta de mim. A ilusão voltou a inromper, dominante, mas o silêncio reinava...acalmei-me, desprendi-me, libertei-me finalmente. Na cadeira voltei a ouvir o bater das duas horas...

Preciso de regressar a ti pensei...a rotina mata-me!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

"E com um brilhozinho nos olhos...

...és o seis do meu totoloto..."

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Idade Média

Escutei atrás da porta os passos que dela se aproximavam, antevi o sorriso mordaz que carregava sempre consigo. O corpo enfesado deixava adivinhar a tísica que lhe roía o corpo, a tosse essa era a certeza de que já não duraria muito. Contudo, já lá iam dois anos e o sorriso esse não caía, não se rendia, e todos os sentidos se pousavam nele à procura de um sinal de vida de esperança.
Vai ser de um dia para o outro diziam há meses, no entanto ninguém era capaz de lhe falar directamente sobre o assunto, desviavam-se discretamente, baixavam o olhar...ela percebia, mas nunca deixava de os encarar, de fazer troça, de tossir um pouco mais do que o corpo lhe pedia, de lançar o pânico nas ruas por onde passava. Eu não percebia o porquê da sua fraqueza, o porquê do súbito afastamento, de já não me beijar, de não me sentar no conforto do seu regaço. Confrontava-a, mas do sorriso trocista e dos seus ainda expressivos olhos, nada tinha mais do que um "já não és um bebé".
Nunca ninguém me voltou a fazer crer que era uma criança, a minha infância acabou aí, perdida no olhar que jamais voltará a partilhar comigo!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Cefaléia

Doce cama gente fria, quente mania de não conseguir esquecer. Palpável o momento, ameno o dia, dificil adivinhar quem vende alegria.
Pelos rasgos das nuvens o sol brilha, mente quente, descarrila quando a lua surge e alimenta os chacais.
Animais sem fé nem medo correm em busca dos vulgares, conhecem lhes o terror, buscam o podre em cada interior. Corre o sangue enquanto o festim continua, o frenesim esse diminui com o matar da fome, mas a sede de morte essa consome os mais vorazes, que se consolam com a existência dos menos capazes.
Entre as luzes da noite muitos são os olhos que brilham, mas poucos são os que voltam a acordar dispostos a ver o sol raiar.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Donkey Kong

A genialidade do jumento conjugada com a sua triste ignorância pesa na albarda quente e desconfortável. O vício maduro de uma tarde mal dormida contrasta com os kilos que arrasta pelos carreiros de pedra. Os cascos empoeirados, às vezes ensanguentados movem-se pesarosamente, há espera de um fim que tarda em chegar. O tormento sufocante envenena, e o sinuoso destino desagua no abismo. Ele move se contudo, ao som mórbido das chicotadas, a teimosia impele-o a continuar, magro, sozinho, triste.

O que sente quando a esperança falta? Saberá concerteza que esta prolonga o tormento, e segue voraz em busca do descanso, do fim, e esta procura parece-lhe tão eterna como o seu destino, e tão efémera como o cheiro nauseabundo que servirá de alimento à morte. Tudo se resumirá a esse momento, o momento de deixar de ouvir o chicote, de deixar de sentir as esporas, e se deixar cair na terra que apesar de seca sempre foi o seu sustento. Voltar para ela é tudo o que quer, nunca de lá devia ter saído.

A sua genialidade ficou perdia algures por aí, no dia em que nasceu!

Ring a Bell

"There is a crack in everything
That's how the light gets in. "

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Match Point

Ouvi o ritmo, subia brandamente. O quente do assobio rimava com o leve tremer do corpo, ele não parava não pedia perdão, não obedecia ao pulsar do coração. O cigarro queimava levemente as pontas dos dedos amarelos.
Sugava aos poucos o fumo nunca me lembrarei dele como naquela tarde. O vento levava-o devagar, conseguia ainda sentir o seu sabor nostalgico às vezes enjoativo.

Sabia claramente tudo aquilo que tinha de fazer, não pensava que à última a dúvida me cantasse ao ouvido a música da indecisão, o eterno "se", o mais que fodido porquê? A calma essa começava agora a fugir, tinha vida própria corria para bem longe, e eu, imóvel, toldado pelo meu Ser que constantemente se sobrepõe ao que tento ser, observava-a dançando com o fumo empurrada pelo vento.

Nervosamente a mais ténue esperança de um sorriso desvanecia-se e as caras daqueles que por mim passavam eram cinzentas sisudas. Levantei-me com dificuldade, nunca gostei de andar, o dia caía e dava lugar à infame noite, à noite que desperta os sentidos, até nos enlear e nos transformar em animais nocturnos sem sono, sem fim, com medo.

Nunca mais chegava e o aperto queimava as entrenhas, o frio da ansiedade conquistava-me aos poucos, rendido a ele fechava os olhos e caminhava sem norte.

Olhei o relógio, faltava uma hora...era cedo, caminhei de volta ao local marcado, o sol brilhava... o tempo o tempo esse fugia, mentia...constantemente

quinta-feira, 20 de março de 2008

It was...Just my imagination...

Regressei...não sabia se seria a melhor solução, não conhecia este instinto repentino...se se tornaria numa prisão.

Os primeiros instantes voltaram a ser como no início, o deleite pelas formas, o prazer do toque, o querer do cheiro.

A respiração profunda, o calor das palavras roucamente susurradas, o desejo, o desejo...acordei envolto em preocupações, receios. Encontrei o abrigo e a compreensão no teu colo branco, no leve arfar do teu peito, e eu no meu terrível desprendimento lisonjeiro olhava-te sem comoção.

Antevi o momento de te voltar a deixar, imaginei os teus olhos rasgados e como não os voltaria a ter...imperdoável!

Agarrei-te a mão quente, não adivinhavas o que me ia na alma. O trágico sabor do teu sorriso preencheu-me, e liricamente sonhei-te chorando e rindo como um arco iris fora do alcance.
Seria a ultima vez, o sal do teu corpo adoça agora outra boca. Continuo a desenhar-te naquele dia, tudo seria diferente...

...se não fosse eu, mas outro...outro que não eu...

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Ofegante

O caminho era tortuoso. Voltei para trás, não consegui avançar. As serras perdiam-se no meu olhar distante, distância, a palavra que definia os bocadinhos que perdidos no canto do olho caiam aos poucos na terra carente de água, sedenta de chuva. O ar rarefeito, queimava os pulmões que pereciam sem oxigénio. A morte caminhava lentamente, sorria ironicamente, satisfeita, esfomeada.

As árvores eram o único abrigo, escondia-me nelas, confundia-me com elas, fugia por pouco tempo, pensava eu que fugia...Ela olhava-me triunfante, sedenta de vingança, orgulhosa do poder, sabedora da força incrivelmente grande, terrivelmente tentadora.

No fundo era isso que ela era...tentadora...! Os joelhos tremeram, aos poucos, o som foi-se desvanecendo, ao longe a música não era mais do que uma miragem, ouvia ainda alguém a cantar, a boca seca, ansiava por água, e a visão turva, escuro.

A cara arranhada, encostava-se à terra seca, e a boca provava senão o amargo sabor da geada. Olhei para ela, e prostrado resignado...nada mais havia a fazer... Ela olhou-me, tocou-me, acariciou-me a cara arranhada, ajeitou o cabelo sujo e despenteado. Parecia uma espécie de despedida, de adeus, teria de deixar tudo a meio. Quis inspirar pela última vez!Ninguém ouviu, ninguém percebeu, ninguém ajudou...Vi-te ao fundo a acenar...Não pensei em ti, desculpa, já me esqueci...

...se calhar nunca me cheguei a lembrar

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Fever

Quente
Ninguém sabe porque mente, lá ao fundo ninguém sente, o calor, torna-me demente...!

Esperei-te naquele instante em que não vinhas, talvez tenho sido esse o melhor instante, talvez o importante seja a parede que nos mantém distante

Nunca pensei que se deixasse morrer, não se alimentou eu sei, mas deixar-nos assim, de repente. Sentimento cruel, doce é o fel, o tormento, não morre inocente, carente, a dor, doente.

Lá fora o frio aquele que me transformou, que me gelou. A respiração compassada faz-nos esperar da vida nada mais que a morte, velhice feroz, corre sem parar.

You're too weird...creep...creep...creep...!

Esperei por aquele momento.

Discuti com todos o propósito, o interesse, não imaginava que conseguissem perceber o que queria, mas lá no fundo, bem no fundo, todos eles queriam o mesmo que eu.

Abri uma garrafa de gin, o cheiro, o sabor amargo, inundavam-me de recordações que preferia esquecer, ou lembrar de maneira diferente. O som da água tónica a misturar-se com o gin, o fervilhar, e no fim o toque do limão, talvez o mais doce, o que pensava ser o mais doce.

Sentei-me, ninguém me olhava, ninguém percebia o terrível desgosto, não lhe chamaria desgosto, continuaria a chamar-lhe medo. Ainda não tinha passado, percebia o erro, uns diriam que seria tarde, outros diriam talvez cedo, e eu a pensar que não errava.

Bebi o copo de um trago, o som da abertura da garrafa voltava a fazer-se ouvir, aquele quente desenroscar, o leve bater do gin enchendo o copo até meio...o ritual.

Prometi a mim mesmo que seria o ultimo, lá fora esperavam-me, imbecilmente tomei-os por tontos, ninguém faria isso.

Bati a porta, olhavam-me de soslaio, fixei-os um a um, não falei. As perguntas começaram a saltar, a sofreguidão com que procuravam respostas confundia-me. Nunca os cheguei a perceber, agora muito menos. Virei as costas, senti os seus olhares admirados, a porta continuava a ser a fronteira da paz, da liberdade. O gin no bolso, chamava-me...cerrei os olhos, não valia a pena voltar. Fechei a porta, no escuro já ninguém me olhava, ninguém me inquiria. Quem eram ?Que queriam?

Toquei na garrafa de gin, experimentei-lhe a forma, a temperatura. Que faz ela aqui pensei?

Nem bebo gin...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

She's my heroine

A porta entreaberta convidava a um rápido olhar, lá dentro o som de vozes perdia-se pelo longo corredor. As portas pesadas, tinham aquele toque liso da madeira. O branco confundia-se com o verde das paredes. Os quadros pregados simetricamente na parede recordavam o que havia sido, entoavam músicas de antepassados que não mereciam ser lembrados, mas que no fundo ninguém conseguia esquecer.
A vida depois deles tinha-se tornado monótona, os pesados rendimentos sabiam bem e davam para sustentar esta decrépita mas ainda assim pomposa família burguesa. O filho estudava alegremente para o que dizia ser o seu futuro, a lingua inglesa. A filha contemplava no jardim as borboletas e a maneira graciosa como por entre o vento as suas asas deslizavam, cortando-o, subindo e depois descendo, e então o leve aterrar numa margarida (a sua flôr preferida, ou não fosse esse o seu nome). Era incapaz de as capturar, era incapaz do que quer que fosse que as pudesse perturbar, que pudesse influir com a sua delicadeza. Correu de volta a casa, o seu nariz ditava-lhe as ordens, em cima do mármore da cozinha, as bolachas de manteiga...Partiu-as aos bocados e molhou-as no leite. Saboreou cada bocadinho das três bolachas a que tinha direito, e voltou para a sua contemplação. Era capaz de passar manhãs, tardes, a olhar para a vida do jardim, a ver cada insecto, cada movimento, a escutar cada som, absorvia-os como se a sua vida depende-se disso, havia apenas uma coisa que a distraía de todo este embevecimento, as suas bolachas.
Alguém a chamava, fingiu não ouvir, mas a voz ecoava dentro da casa, encheu-se de forças e resolveu ir. Esperava-a sua mãe, mulher alta, emproada, vivia ainda daquilo que pensava ser. A menina entrou, guardando uma distância de segurança, sabia que algo se passava, não era normal a mãe chamá-la quando o sol ainda lhe dava a possibilidade de viver no seu jardim. O seu pai e o seu irmão, estavam também na sala, as suas caras estavam envoltas numa mistura de mistério e preocupação.
Não perguntou nada, e voltou para a janela, de lá conseguia ver a borboleta ainda pousada na margarida. O sorriso voltou a preencher-lhe o rosto. Ninguém falava e o momento pareceu arrastar-se indefenidamente.
O pai aproximou-se afagou-lhe a cabeça, ela depressa se afastou, estranhou tal carinho, era algo que não conhecia algo a que não estava habituada. Foi então que se ajoelhou e a abraçou, um abraço longo, terno, cheio de amor. Ela resistiu, deixando-se depois conquistar. Percebeu o carinho, percebeu que algo de grave se passava, pensou nas suas bolachas, fechou os olhos com força, via a sua borboleta a brotar do casulo, a mostrar-se ao mundo. Abriu os olhos, e as lágrimas corriam pelo seu rosto, olhou em frente e não percebeu se eram também as suas lágrimas que corriam no rosto do seu pai. Correu para a cozinha, a farinha não estava sobre a mármore, não se ouvia o crepitar da madeira que em tempos a enbalou. Conhecia bem esse som, conhecia também o sabor que dele advinha. As suas lágrimas corriam agora descontroladamente, correu de volta ao jardim. Ninguém a seguiu, procurou em vão uma borboleta. O escuro apoderava-se do céu, lá ao longe as nuvens bramiam. Reparou naquele momento que as árvores se tinham despido, que no chão o manto de folhas cobria o seu caminho. A chuva misturava-se com as suas lágrimas que não pareciam agora ser tão salgadas. O mundo havia-lhe tirado tudo aquilo que tinha de mais precioso, muito tinha morrido, e nada havia que o pudesse compensar. A Primavera vinha lá longe, o Inverno tinha chegado e nada o podia mudar.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

No fundo...no fundo...

Era uma vez uma casa branca nos locais onde o tijolo havia sido pintado. Sentia-se o esforço com que tinha sido construída, o cheiro a suor ainda pintava as paredes mal caiadas, era uma casa quente, o sol batia-lhe durante toda a manhã e parte da tarde, à noite era o som dos grilos que a envolvia, sem eles, o silêncio ganhava uma nova dimensão e tomaria tudo de assalto. Conduzia sem rumo naquela estrada e estranhei os contornos da casa que se aproximava. Ao fundo vislumbrei uma luz de vela cuja chama balançava ao sabor do vento, ele comandava-a e deixava-a viver em conjunto com o pavio. Sozinho e perdido saí de dentro do carro e procurei companhia. Algo cujo sabor não sentia há muito tempo. A chama guiava-me por entre um escuro que para além de quente se revelava confuso. Bati a uma porta ferrugenta e alguém se assumou à porta. Era um menino, não parecia ter mais de doze anos, abriu a porta sem fazer perguntas e correu de volta ao abrigo do lar. A confusão entrava-me pela cabeça e fazia-me pensar coisas que possivelmente não existiam. A chama continuava a lutar contra o vento e os meus olhos não conseguiam deixar de captar o seu movimento. Depois de a seguir com os olhos, caminhei até ela, olhei em volta, e ninguém pareceu reparar na minha presença, uma mulher ao lado da chama limpava os restos do jantar e o rapaz brincava com o seu fiel cão. Procurei entrar na família, imaginar o que faziam ali, como tinham ali chegado, porque tinham escolhido aquele lugar. A mulher havia sido bonita, o trabalho te-la-ia gasto, o trabalho ou o desgosto, as covas no lugar das bochechas, a ausencia de sorriso mostravam que algo de errado se passava.
O rapaz e o cão indiferentes e sem percepção de tudo o que se passava começaram então a olhar-me, apontava para mim com curiosidade e o cão ladrava, abanava o rabo como que esperando por um bocado de queijo ou de carne. A mulher continuava impassível no seu trabalho, varria mecanicamente o chão sem um olhar, um suspiro, uma palavra. O rapaz começou a aproximar-se, o seu cão num acto de ousadia seguiu-o com o rabo bem esticado. Sentou-se a meus pés e fez-me sinal para me sentar a seu lado, o chão seco, continuava quente, o cão lambia-me a mão, fazendo um gesto rápido o menino agarrou-me a outra mão, levantando-se apagou em seguida a luz que perturbava o escuro que em breve nos envolveu.
Contou o que se passava, quem era, porque estava ali. A mãe despreocupada fechou a porta, continuou como se nada se passasse como se ninguém ali estivesse. O menino esse tinha as faces vermelhas, as lágrimas começaram a correr-lhe pelo rosto. Limpou-as prontamente, tinha que ser crescido, no fundo tinha que ser ele a dar o exemplo, era o homem da casa. A sua infância havia-lhe sido roubada, faltava-lhe o calor dum pai, o amor duma mãe, o aconchego duma infância que nunca tinha chegado. Falei-lhe de como tinha sido o mundo para mim, de como me tinha sorrido, como me continuava a sorrir. Senti os seus olhos a fixarem-se em mim, a lua iluminava-lhe o rosto, perguntou-me se me podia chamar pai, perguntou-me se naquele momento ele poderia sentir-se meu filho. Sem pensar respondi que sim, e depois dum suspiro longo aninhou-me em mim e pediu-me para lhe contar a história que contaria aos meus filhos. Pensei por um momento, as emoções fervilhavam, não sabia o que fazer, estranhava tudo aquilo que pudesse dizer. Quando comecei a contar a história, ele já dormia, o seu cão observava-me tinha-se aninhado também a meus pés, parecia sedento das minhas palavras. Acabei a história...
Acordei, de volta no carro, tudo me parecia uma miragem, lá na beira da estrada não havia casa, não havia criança, não havia mãe. O mundo tinha-me pregado mais uma partida, não o voltarei a ver, espero não o voltar a ver...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Rubor!!!

Sabes bem que sei o que quer que seja que sabes. Sabes bem, o sabor tem aquele toque amargo. O cheiro...há quem diga que tens 20 anos... Não sei se quero ou não, não sei se prove ou não, aquele receio do que possa vir mais. É dificil provar tudo aquilo que queremos, não provar, provar, mas provar daquela maneira como se prova o vinho. É preciso provar o que se sente, é preciso provar para se perceber o que se quer, é preciso mudar o tom das coisas quando se quer bebericar depois de provar. Prova dos 9?Regra de 3 simples... Já lá vai tanto tempo, e o vinho esse continua velho, aquele aroma, aquele toque...o sabor...o sabor...!

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Aparições

Sai agora que estou algures, encontra-me, preciso de ti, o escuro deixa o mundo carente. O vinho, aquele do sabor amargo, o quente, sei lá de repente, não pareces aquele alguém que não deixava ninguém indiferente. Espera, não vás agora, voltei para dentro, tenho tanto medo... Olha à tua volta, afinal não aguento, sou eu, aquele que te acena, que te sorri, não me vês?Lá ao longe, as luzes focam-me trazem-me para a ribalta, não digas que não me vês, olha para mim, por favor olha, nem que seja pela última vez, guarda aquela imagem que te dei...não te lembras?Daquele abraço, da voz, das vezes que fomos só um, quando te guardaste para mim, do beijo...daquele doce beijo...Ninguém viu, não te preocupes, ninguém se importa. Porque é que se haviam de importar? Vá lá, não voltes, não me vejas assim. Sou aquela sombra que pensaste que eu era...Tornei-me nela...Desculpa

Intocável

Espero o momento certo, mas alguém surge surrateiramente. Faz o que eu devia ter feito, faz por ser ele o eleito, encontra o abrigo no teu peito. Fujo ao longe por entre a chuva fria. Ela molha alegremente quem passa. Hoje sou um deles, hoje sou um dos poucos que não te sente, que não te renega e perfilha a tua estranha natureza. A instabilidade persegue-te, as nuvens criam-te algures, trazem-te ao mundo e deixam-te viver, morrer, e renascer no corpo de alguém. Abrigas-te no meu canto, comes o meu encanto vorazmente, indiferente ao que sinto, ao que quero. Fazes o que não pode ser feito, renovas-te e evaporas para depois seres de mais alguém, para te alimentares ou matares os outros, aqueles que estão longe e que pensavam precisar de ti. É esse o objectivo, seres de todos e no fundo de ninguém

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Já não sou quem era...Adeus...

Entraste sem pedir licença, ficaste e fizeste toda a diferença, com o sentido q achei ser todo meu, percorri-te envolto num mundo só teu. Acabei por perceber q a ilusao ganhou, que a tentação me devorava a cada sinal, a cada gesto e o coração batia cada vez mais sedento de ti, do teu cheiro, do teu jeito voraz. Consomes-me a alma, devoras cada bocadinho meu, e eu toldado por ti presenteio-te com tudo aquilo q de melhor há em mim.
Acordei do sonho de te ter, e estás aqui ao lado, olho os teus olhos fechados e aperto-te como se fosse a ultima vez, ou a primeira de algo inexplicavel, algo so sentido, so experimentando. Abriste os olhos voltaste do mundo da fantasia, esperava ser aquilo q és, um sonho. Dás-me a mão, tocas-me, dizes-me olá...O mundo é teu, penso eu, o meu mundo é teu...!

Pés e Cabeça

O mundo prega a maior partida de todas. O escuro traz o que de melhor tem a luz, o silêncio. A imensidão da tua beleza, é a possibilidade de te olhar através do negro do silêncio. Traduzir as falas, encontrar a razão de ser suprema de tudo o que nos rodeia no mais doce e enibriante silêncio que encontro, o canto da tua boca...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

You remember...We used to run and hide...!

Pela janela entra a luz difusa, enquanto o Inverno avança a passos largos. A Primavera vem lá ao longe, traz a esperança dum mundo que no fundo ainda não está acabado. Com a brisa chega o cheiro adocicado de um Inverno que em certos lugares é feliz, o chocolate quente, o aroma da cinza que se espalha depois de brasas, depois de madeira, depois de árvores. O grito infantil, não é mais que um chamamento, um daqueles sintomas da nossa velhice, da nossa nostalgia. Eles brincam incessantemente, eles gritam incompreensivelmente alto. Não os oiço, não os percebo, já os ouvi...já os percebi...! Há voltas que o mundo não volta a dar, há alturas em que não posso sair e jogar ao berlinde, que não posso ficar com as unhas dum escuro que só a terra dá. Olho pela janela, o que sentia não era mais que uma ilusão, não passa de um engano, de um desejo incrivelmente real, tão real quanto puro. Vejo-me naquele campo a gritar...Os parvos dos miúdos não brincam, a minha mãe acena-me...Tens de ir para casa João...Já é de noite, vais perder os berlindes, não vês a bola. Raio da composição da professora Alice, não a fizeste João, não a fizeste...

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Habilis

Calma, às vezes nem tudo o que queres faz sentido. Espera, o sentido, não é bem o teu forte, olha, esconde-te, pensa e volta quando souberes de quem não te queres separar até à morte. O desejo não te persegue como a mim, não te sussurra ao ouvido coisas doces, e ternas...A testosterona não te testa, não te engana, não te mente por momentos intermitentes. Acordo, alguém está deitado a meu lado, quem?porquê? Amanhã há mais, diz-me alguém ao ouvido...Agora está na altura de desertar

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

...

Olha para tudo aquilo que te trago de novo, pensa no instinto que no fundo comanda o louco, cala-te e sente que o futuro não é mais que o presente nublado. Sai de nós uma fina camada de chuva, correm em nós rios de lama, correntes de lava, tudo o mais é mentira, tudo o resto é a mais pura e doce das ilusões. Não quero com isto dizer que sejas alguém, sei bem que não te procuro, sei bem que não te quero...às vezes...!