quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Régua e Esquadro

As lágrimas caiam-lhe levemente pelo rosto enquanto, com a língua procurava discretamente o sabor da sua dor.
Ninguém olhava e a sua ânsia de atençao desvanecia se nos sorrisos daqueles que o apontavam anedoticamente. A sua infância seria sempre assim, marcada por dedos esticados, por nódoas negras e humilhações, pela revolta contida, tantas vezes escondida de uns pais que não faziam mais do que o trazer nas palmas das mãos.
Ele olhava-os resignado quando voltava à escola, as sardas deixavam de se notar devido ao rubor que lhe corria a cara quando a campainha o voltava a chamar. Lá dentro esperavam-no como abutres, sabiam que já entrava morto, que não lutaria, que se limitaria a chorar, sem fazer barulho, afagando delicamente o cabelo cortado direito.
No fundo já não se lembravam porque o faziam, tinha-se tornado mais um hábito, uma maneira de rir e fazer rir à custa de alguém sem reacção. Lembro-me bem desses tempos, de como me sentia bem com o dedo esticado, de como me ria.
Ele não era mais que o balanço de um grupo de crianças, era o mal necessário ao bem estar geral. A violência ficava ali, entregue a alguém que sofria pelos outros, sem esboçar qualquer tipo de resposta. Mas ele haveria de superar, de crescer, o importante era que aproveitássemos que nos enchessemos de vontade de ir à escola só para o ver entrar só para o ver chorar...raio do bacorinho...às vezes penso como teria sido tudo mas dificil sem ele, imagino se hoje em dia olham para ele e veem o triste de que sempre me recordarei.
Nunca ninguém lhe agradeceu, nunca ninguém o fez sentir especial no seu papel de mártir, acho que bem lá no fundo se ria dele, e da sua figurinha cabisbaixa...

Presto-te então aqui homenagem óh Jesus Cristo da escola primária

1 comentário:

MissKitsch disse...

É que aposto que esse não deu a outra face... Cresceu, muniu-se de caçadeiras e entrou num qualquer centro comercial... vá, vamos dizer na Falagueira... e disparou a torto e a direito.